foto: João Barnabé
“A confissão da leoa” na Universidade de Évora

Mia Couto, escritor moçambicano e prémio Vergílio Ferreira em 1999, regressou à Universidade de Évora para um encontro sobre a sua obra e a apresentação do seu mais recente livro “A confissão da leoa”. 

De passagem pelo Alentejo, onde, segundo o escritor e biólogo, há outra “forma de estar” e onde “o sentimento de tempo é muito parecido com o de Moçambique” e pela Universidade de Évora, onde se sente em casa e de onde guarda “memórias gratificantes”, Mia Couto sentiu-se “em família” e contou estórias da sua vida passada em África, da sua passagem pelo jornalismo, da sua paixão pelos animais e pela biologia e respondeu às mais diversas questões colocadas pela plateia. 

Jornalista durante 11 anos por instrução da FRELIMO, numa altura em que já escrevia contos e tendo interrompido a sua formação em biologia “a história da vida” e a “mais bela” das ciências, Mia Couto confessa nunca ter pensado escrever sobre algo “tão apelativo” como aconteceu no seu último livro. “Nunca pensei que 26 pessoas devoradas por ataques de leões fosse pretexto para escrever um livro”.

A tradução das literaturas africanas e a paixão e entrega do francês Michel Laban, que construiu um dicionário feito pelos próprios autores, foi um dos aspetos que o escritor referiu na sua conversa, destacando a importância deste trabalho para que a literatura possa “ultrapassar fronteiras”.

Sempre num registo bem-disposto, o escritor confessa que é mais fácil considerar-se biólogo do que escritor porque “os escritores levam-se muito a sério, e nessa altura transformo-me em biólogo, mas quando os biólogos têm a pretensão de que vão salvar o mundo viro logo escritor”.

Saber contar histórias é para Mia Couto a grande questão e, tal como Samora Machel lhe terá dito nos tempos em que era “jornalista infiltrado”, quem não sabe fazê-lo é pobre”. “O que faz de nós o que somos é a nossa história” e segundo Mia Couto o escritor está “autorizado a construir histórias”. O facto de os pais nunca lhe terem dado grandes responsabilidades, porque “partia ou estragava tudo e nunca tive grandes responsabilidades em casa”, fez com que tivesse uma infância “muito solitária”, o que o levou a inventar histórias sobre as pessoas que passavam, “e foi isso que me fez escritor”. 

Sofia Ascenso | UELINE

Publicado em 10.05.2012